Em 2040 ainda vamos continuar a tomar banho, e ao que tudo leva a crer, continuaremos a usar água quente. Este texto será breve, tal como a duração desejável dos banhos, uma vez que neles usamos em conjunto água e energia, dois dos mais importantes recursos para a nossa vida e conforto.
Vejamos o que implica um banho com água quente. A água tem que ser captada à superfície, no subsolo, ou via dessalinização, tratada para nos garantir uma boa qualidade, transportada e distribuída por montes e vales até às nossas casas. Depois de aquecida a gosto e utilizada, ela é recolhida e tratada, regressando finalmente ao meio hídrico, tudo isto através de processos altamente consumidores de energia.
Sem contar com o aquecimento de água, o processo que referi atrás é responsável, em todo o mundo, por cerca de 4% do consumo mundial de eletricidade. Quanto ao aquecimento de água, é nos edifícios residenciais que é consumida 30% de toda a energia final da União Europeia, e 14% desta energia é utilizada no aquecimento de água, e aqui falamos sobretudo de água quente para banhos. Podemos mesmo dizer que os banhos de água quente são o segundo maior consumidor energético dos edifícios residenciais europeus, sendo este consumo apenas ultrapassado pelo aquecimento do espaço interior. E olhando para a disponibilidade de água, a Agência Europeia de Ambiente estima que cerca de um terço do território da União Europeia já está neste momento exposto a condições de stress hídrico permanente ou temporário.
Mas basta de contexto, prometi que o texto seria breve. Como facilmente se percebe, a gestão da água e da energia terá que ser holística e em uníssono, de forma a serem harmonizadas as dissonâncias de nexo causal que os estes dois recursos produzem um no outro.
É exatamente este o caminho que finalmente está a ser seguido pela Comissão Europeia, através da inclusão cada vez mais presente e direta do nexus água-energia em importantes diretivas, nomeadamente a diretiva de eficiência energética, a diretiva de tratamento de águas residuais urbanas e a diretiva do desempenho energético dos edifícios.
Este caminho levar-nos-á ao ano de 2040 com confiança e otimismo por acreditarmos que os banhos que tomaremos nessa altura serão extremamente eficientes do porto de vista hídrico e energético. Em 2040 saberemos que os nossos edifícios passaram por uma auditoria hídrica e energética que nos garante um acompanhamento permanente da utilização da água e energia, identificando continuamente todas as oportunidades de melhoria, para que possamos poupar água energia e dinheiro, e que nos garantem níveis elevados de conforto. Teremos confiança nos equipamentos sanitários uma vez que foram instalados por técnicos qualificados em eficiência hídrica e energética, e estão rotulados para que possamos escolher os que nos garantam melhor desempenho no uso eficiente da água e da energia. Saberemos que a água que usámos no banho vai ser tratada ou reciclada localmente, para que a possamos utilizar de novo, ou então encaminhada uma fábrica de água e de energia” que a tratará adequadamente, ao mesmo tempo que produzirá energia, com saldo positivo. Também saberemos que a energia utilizada para nos aquecer a água provém exclusivamente de fontes de energia renováveis.
Quanto à tecnologia de chuveiros eficientes, temos já atualmente, disponíveis no mercado, chuveiros que replicam a tecnologia dos duches espaciais, regenerando em tempo real 90% da água utilizada e poupando 80% da energia gasta para o aquecimento da água, em comparação a tecnologias convencionais. Em 2040 esperemos que o espaço esteja cada vez mais em nossas casas, e nos nossos duches. Ad astra!